domingo, 13 de maio de 2012

LUIS DA CÂMARA CASCUDO

Folclorista brasileiro
[creditofoto]

Luís da Câmara Cascudo

30/12/1898, Natal (RN)
30/7/1986, Natal (RN)

[

"Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivência dos humildes, sábios, analfabetos, sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço."

Em entrevista ao jornal "A Província", Luís da Câmara Cascudo recriou a atmosfera da sua meninice, revelando os interesses que desde então o levariam a se tomar dos mais respeitáveis pesquisadores do folclore e da etnografia de nosso país.

Filho de um coronel e de uma dona de casa, de família abastada, Luís da Câmara Cascudo estudou no Externato Coração de Jesus, um colégio feminino dirigido por religiosas. Teve professores particulares e depois, por vontade do pai, transferiu-se para o Colégio Santo Antonio.

Durante a adolescência, teve fama de namorador, mas acabou apaixonando-se por uma moça de dezesseis anos, Dália, com quem se casou em 1929. Tiveram dois filhos, Fernando Luís e Ana Maria Cascudo.

Câmara Cascudo exerceu várias funções públicas, entre as quais professor, diretor de escola, secretário do Tribunal de Justiça e consultor jurídico do Estado. Como jornalista, assinou uma crônica diária no jornal "A República" e colaborou para vários outros órgãos de imprensa do Recife e de outras capitais.

Na política, foi divulgador da ideologia integralista (uma adaptação brasileira do fascismo), exercendo militância na imprensa. Em 1951 tornou-se professor de direito internacional público na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Três anos mais tarde, lançou a sua obra mais importante como folclorista, o "Dicionário do Folclore Brasileiro", obra de referência no mundo inteiro. No campo da etnografia, publicou vários livros importantes como "Rede de Dormir", em 1959, "História da Alimentação no Brasil", em 1967, e "Nomes da Terra", em 1968. Publicou depois, entre outros, "Geografia dos Mitos Brasileiros", com o qual recebeu o prêmio João Ribeiro da Academia Brasileira de Letras.

Em 1965, Câmara Cascudo escreveu uma obra definitiva, "História do Rio Grande do Norte", coligindo pesquisa sobre sua terra natal, da qual jamais se desligou. Sua obra completa, densa e vastíssima, engloba mais de 150 volumes. O pesquisador trabalhou até seus últimos anos e foi agraciado com dezenas de honrarias e prêmios. Morreu aos 87 anos.

  



Obras de Luís da Câmara Cascudo reeditada

A editora Global está reeditando a obra de Luís da Câmara Cascudo, o grande pesquisador da cultura popular brasileira, cujo centenário se comemorou em 1998. Câmara Cascudo, o fundador da Sociedade Brasileira de Folclore, marcou o estudo dos costumes e do imaginário popular brasileiro desde a publicação de „Vaqueiros e Cantadores”, em 1939. Os seus livros não são apenas documentos eruditos da cultura oral brasileira e de suas raízes indígenas, africanas e europeias, mas também clássicos da literatura brasileria eles próprios.
Do espólio enorme de mais de uma centena de títulos, a Global publicou até agora as principais obras sobre o folclore brasileiro:

Dicionário do Folclore
416 páginas, DM 126,--
… uma obra de caráter nacional. O Dicionário contém um apreciável acervo relativo aos usos e costumes brasileiros, esclarecendo todo o processo evolutivo da cultura de um povo, através da palavra, da escrita e de seus costumes.

Contos Tradicionais do Brasil
318 páginas, DM 63,--
Luís da Câmara Cascudo reuniu, nesta obra, as versões dos contos tradicionais – na sua maioria ouvidas de pessoas do povo do seu Estado. Procurou, por meio de uma sistematização, dividir os temas em: contos de encantamento, religiosos, eiológicos, adivinhação e outros, a fim de facilitar a leitura e a compreensão. Esses contos ainda hoje são recontados em todo o país.

Antologia do Folclore Brasileiro
323 páginas, DM 63,--
Antologia do Folclore Brasileiro é a reunião das meritórias informações elaboradas cronologicamente para facilitar o estudo literocientífico do povo brasileiro. O autor demonstra nesta obra conceitos e tendências ainda hoje presentes no cotidiano do brasileiro com as apresentações de Folia de Reis, Congadas, Bumba-meu-boi, Festas Religiosas Populares e outras manifestações comemoradas por todos os recantos do país.

Superstição no Brasil
416 páginas, DM 86
Uma síntese de usos e costumes egípcios e gregoromanos que estão presentes na vida diária do brasileiro. O clima da teologia popular impregnada dos cumprimentos de promessas, ex-votos, peregrinações, procissões, devoções às almas-penadas, permanecendo de maneira íntegra na tradição brasileira.

Made in Africa
185 páginas, DM 45,--
… uma pesquisa sobre o folclore das duas margens do oceano: África e Brasil. O autor relaciona a presença do Rei do Congo nos Maracatus de Recife e a da Rainha Jinga, "única soberana de toda a África", que continua na memória brasileira, nos autos e folguedos. O autor apresenta informações reestruturadas a respeito das comparações, das modificações e do processo de aculturação entre os dois países.

Mouros, Franceses e Judeus
111 páginas, DM 32,80
Os portugueses legaram ao Brasil expressões literárias, usos e costumes mouros que ainda subsistem no país: as cavalhadas, as cheganças de mouros, as superstições e crendices e até a arquitetura mourisca. A presença francesa é encontrada nas rodas e brinquedos cantados e nos contos tradicionais. A influência judaica se faz sentir nas lendas, nos ritmos e em certas cerimônias religiosas. As três presenças no folclore do Brasil estão manifestadas nos usos e costumes do povo brasileiro que continua realizando os fenômenos que se tornam folclóricos.



Carlos Drummond de Andrade




Nome:
Carlos Drummond
de Andrade
Nascimento:
31/10/1902
Natural:
Itabira - MGMorte:
17/08/1987

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.


Carlos Drummond de Andrade
nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.

Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.